Reflexões e perspectivas: do académico para o mundo

Este é o meu último artigo do ano letivo 2024/2025, que encerra para alguns ciclos e está prestes a terminar para outros, na Universidade Lusófona – Centro Universitário do Porto. Para tal, decidi que seria um artigo de caráter mais generalista, apresentando breves reflexões e perspectivas relativamente a alguns domínios, tanto no meio académico como fora dele.
Primeiramente, importa abordar situações humanitárias catastróficas que marcam o presente, como o que vemos acontecer na Faixa de Gaza: um genocídio e uma situação de apartheid orquestrada e perpetrada pelo regime israelita, liderado atualmente pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, com a destruição intencional de vidas humanas e de infraestruturas essenciais, acompanhada pela obstrução de ajuda humanitária internacional. O povo palestiniano merece o direito à autodeterminação, através do reconhecimento e da soberania do seu Estado, à libertação das amarras impostas, e de viver e coexistir em paz com outros povos.
No contexto europeu, a guerra na Ucrânia continua a ser outro evento catastrófico que levou, e ainda leva, à perda de muitas vidas. Iniciada pela invasão russa em 2022, poderá estar a entrar numa nova fase, marcada por possíveis cessar-fogo e negociações, ou poderá simplesmente entrar numa período de abrandamento mais prolongado, visto que o regime de Vladimir Putin pretende manter o território já ocupado.
Estas duas terríveis situações correspondem a realidades vistas como de maior relevo mediático e geopolítico, mas não devemos esquecer todas as outras crises que afetam o resto do mundo, tais como a fome, a pobreza, os conflitos armados, a violação dos direitos humanos, a exploração, os efeitos devastadores das alterações climáticas, entre outras que, infelizmente, continuam a ocorrer. Não devemos permanecer em silêncio face a estas questões, pois o silêncio e a neutralidade podem revelar-se opressivos.
A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América teve também impactos significativos nas situações referidas e noutros contextos globais. A sua administração tem adotado decisões inconstitucionais, com consequências prejudicais e nocivas que, ao ritmo de uma avalanche, corroem e profanam os ideais democráticos, com o sistema a assumir uma natureza cada vez mais autoritária. Já não se esconde a oligarquia instalada no país, gerido como se fosse um negócio lucrativo exclusivamente para as elites económicas e políticas, evidenciando a fase de deterioração atingida pelo hipercapitalismo contemporâneo.
Acerca das eleições legislativas portuguesas de 2025, realizadas no dia 18 de Maio e agora concluídas com os votos dos círculos eleitorais do estrangeiro, a AD (coligação composta pelos partidos PPD/PSD e CDS-PP) saiu vitoriosa. Luís Montenegro foi indigitado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, pela segunda vez consecutiva, como Primeiro-Ministro, iniciando assim o XXV Governo Constitucional de Portugal. O CHEGA alcançou o segundo lugar, conquistando mais dois mandatos que o PS, que ficou em terceiro lugar, sendo um resultado histórico, positivo para o partido populista e negativo para o PS e para o esquerdismo partidário no geral. De salientar o partido Juntos Pelo Povo (JPP), que conseguiu, pela primeira vez, estrear-se na Assembleia da República pelo círculo eleitoral da Madeira.
Num artigo anterior, com o título de Crise política em Portugal: uma velha nova conhecida, discuti brevemente a crise política que desencadeou as eleições do passado dia 18 de Maio. Apesar do caso Spinumviva e das controvérsias associadas ao Primeiro-Ministro, o eleitorado deu a vitória à sua coligação, que obteve um resultado mais expressivo do que na legislatura anterior, mas sem alcançar uma maioria absoluta. Isto poderá indicar o efeito do caso. Contudo, é uma forma de conferir maior legitimidade a Luís Montenegro. O CHEGA cresceu nestas eleições, aumentando o seu número de deputados em 10 relativamente à legislatura anterior, pondo fim à disputa bipartidária em Portugal num futuro próximo e colocando a questão em cima da mesa sobre o real impacto que este crescimento poderá causar na governabilidade. Com a derrota da esquerda e do esquerdismo partidário, apesar de o Livre poder apresentar-se como um partido em crescimento, este espectro deverá olhar internamente e fazer uma reflexão sobre a comunicação da sua mensagem e a desconstrução que deve ser feita dos temas essenciais, tendo em conta as realidades nacionais e as sensibilidades do eleitorado. As eleições autárquicas aproximam-se.
Num registo mais positivo, destaca-se em Junho o início do 'Pride Month', ou Mês do Orgulho, que comemora a comunidade LGBTQIA+ e a essencial defesa dos seus direitos. A comunidade e os seus direitos estão atualmente sob ataque, através da criação artificial de uma 'culture war' por parte de determinados indivíduos, grupos e entidades de certo espectro, vertentes e ideologias, que culpam o "wokismo" por problemas sociais graves. No entanto, não passa de uma tática "divide and conquer", ou dividir e conquistar, cujo objetivo é desviar a atenção das pessoas das verdadeiras causas e origens dos problemas. A diversidade e a autoexpressão de identidades, sejam de género ou outras, validam as experiências e os sentimentos das pessoas, enriquecem a condição humana e permitem contestar a ideia que que tudo só pode ser unicamente de uma maneira ou que está gravado em pedra, quando vivemos num mundo tão dinâmico em que as pedras erodem.
Em termos académicos, saúdo todos os estudantes que completam mais um ano letivo e que estão cada vez mais perto de concluir o seu curso, assim como os que chegam ao fim de um ciclo, como é o caso de alguns dos nossos escritores do Caneta Lusófona. Aos meus colegas de jornal e a todos os estudantes desejo votos de sucesso, que costuma resultar de uma conjugação de sorte e contexto, mas sobretudo de trabalho, visão, dedicação e também paixão, ingredientes que permitem causar um impacto positivo não só nas nossas vidas, mas também ao nosso redor, na comunidade e na sociedade.
Também agradecer a todos estudantes que participaram em associações de estudantes, núcleos e outros projetos académicos, essenciais para o ambiente e espírito académico, assim como aos docentes, funcionários e corpo universitário que fomentaram condições propícias à aprendizagem. Aos futuros caloiros desejo uma boa entrada na vida académica e que apreciem esta experiência e esta nova fase de desenvolvimento pessoal.
No que consta ao Centro Universitário do Porto, importa mencionar as novas instalações, nomeadamente o novo polo ou campus da Lusófona, situado nas Fontaínhas, que os alunos avaliam de forma positiva e promissora, apesar de reconhecerem a necessidade melhorias e ajustes.
Numa perspectiva pessoal no âmbito académico, espero ter fomentado a curiosidade dos leitores e ter trazido artigos com temas interessantes, diversificados e com uma visão diferente ao longo deste ano letivo. Este é já o meu sétimo artigo, que representa uma jornada, tal como a minha experiência neste projeto. Espero também ter contribuído e tido um impacto positivo no meio académico, seja através deste jornal, do Núcleo de Estudantes de Ciência Política e Estudos Eleitorais (NECPRI-ULP) ou das minhas interações com a comunidade estudantil.
Quanto ao futuro do Caneta Lusófona, este continuará com objetivo de ser um espaço académico de liberdade para a criação de conteúdos criativos, diversificados e multifacetados, com cobertura de temas atuais e de encontro ao interesse dos estudantes, como os fundadores idealizaram. Para os estudantes interessados em fazer parte do jornal, poderão contactar-nos. Pretendemos contar com estudantes que tenham paixão e inclinação para a escrita, motivados, dedicados e que tenham algo a dizer!
Por fim, gostaria de sublinhar que a vida tem e oferece muitos caminhos, não temos de estar obrigados a percorrer apenas um. Se permanecermos imóveis e não sairmos da nossa bolha, da nossa zona de conforto, dificilmente conseguiremos exercer qualquer influência ou atingir os nossos sonhos e objetivos. Dar o primeiro, e os primeiros passos, não é tarefa fácil. Não nascemos ensinados, e viver é, inevitavelmente, um constante processo de aprendizagem, erro, e tentativa de melhoria e superação pessoal, com vista à construção de um mundo mais justo e melhor.
Hugo Costa