Lançamentos Semanais

Quando o senso comum já não colabora para a tomada de decisões de forma consciente:

04-10-2024

A sociedade como hoje a conhecemos, nem sempre demonstrou ter tanta capacidade ou incapacidade para certas questões diversas e perfeitamente triviais como é o caso do senso comum, e dos respetivos temas e conceitos ao mesmo associados. 

Apesar da perspetiva ocidental, caso de Portugal e local de onde provém o artigo que os leitores estão a ler, ser uma dita "civilização avançada" temos no entanto, pessoas, cidades, vilas, igualmente tão pouco avançadas como algumas encontradas no hemisfério geográfico mais a leste, caso da Rússia, China, ou até do outro lado do Atlântico como as américas sulistas, pois os EUA e o Canadá estão integrados nesta esfera de possível ilusão de um avanço comparativamente superior ao resto do mundo, que na verdade, é de fato um estratagema que em parte funciona e de outra, não.  

Importa referir que é verídico e indubitável que o Ocidente se encontra num nível de inovação e desenvolvimento extremos, o que de forma semelhantes, não acontece com muitos dos outros países com que partilhamos o espaço internacional, mas por outro lado, temos as referidas "exceções à regra" como o Japão, a Coreia do Sul e até a Austrália, meros exemplos de muitos porque poderia enumerar.

Tudo isto para chegar à conclusão de que, mesmo com o avanço civilizacional europeu e ocidental sobre a maior parte dos países africanos, em parte asiáticos e América do Sul, temos de manter a "cabeça baixa" porque, se todas as pessoas aprendem diariamente umas com as outras, o que seria se diferentes culturas, em países diferentes com etnias diferentes e seus respetivos Estados, não resultasse nessa mesma aprendizagem, seria de algo de admirar. 

Estas pequenas conclusões, servem para promover o diálogo e cooperação, solidariedade e até o bem-estar e a paz mundiais, no entanto, a falta de senso comum é transversal aos dirigentes de mais alto gabarito global, aplicado às suas decisões, bem como das próprias sociedades que estão a ser mantidas por um fio muito transparente até entrarem em colapso.

O conceito de sociedade é bastante complexo. Será de difícil perceção, mas como meros mortais que somos, e como "pensamos, logo existimos" do nosso conhecido René Descartes, conseguimos extrair um resumo do que se passa à nossa volta, e concluímos, pelo menos a minha pessoa, que o mundo em si está a desabar aos poucos, algo que poderá ter começado, na opinião de alguns, na perda de capacidade gradual da hegemonia internacional americana a partir do 11 de setembro. 

Poderíamos abordar e entrar por as maravilhosas teorias que se conhecem, ou até mesmo inventar uma, mas a situação que vivemos não é de todo fácil e muito menos simples. Atualmente temos, como é o exemplo da maior dita Democracia do mundo, e efetivamente é mas está a passar por fases de preocupação bastante relevante, a ter conflitos internos, onde o país está divido a metade autenticamente, a promoção à violência grátis nas ruas e ao abuso policial como os acentuados casos de racismo que não deveriam existir. Tudo aspetos que se passam na maior potência estadual do mundo, que de certa forma, representa a situação e o panorama em que nos encontramos e no nosso quotidiano. 

Está claro que, mediante essa falhas graves de controlo de problemas internos, seria de espantar se essa falta de controlo não afetasse as decisões à escala mundial. No momento, falo não do caso dos EUA em concreto mas sim, de uma incapacidade e impotência dos líderes mundiais, como o caso de Úrsula von der Leyen, que tem vindo a ser questionada e tem estado "sobre chamas" face a algumas decisões um pouco controversas que realizou. Diga-se que este caso em particular será dos menos graves que se pode encontrar no mundo, pois se formos por aí, nomeio logo "à cabeça", Donald Trump, pela instabilidade que só a sua presença causa, quer de forma interna nos EUA, como à escala mundial, onde refere que irá acabar, por exemplo, com a guerra da Ucrânia num dia, que poderá passar por uma autêntica humilhação e falta de respeito para com os nossos compatriotas ucranianos que tem vindo a lutar diariamente, com falta de recursos, quer financeiros como bélicos, mesmo com a presença de tropas ocidentais de forma indireta, ou se quisermos chamar, os ditos "mercenários indiretos", com uma potência invasora que já não possui o poder de outrora na antiga União Soviética, profundamente evidente para quem iria fazer uma "operação especial" em cerca de 4 semanas, penso que esteja a correr bastante mal.

O mesmo se pode dizer em relação ao que se passa atualmente com a cabeça de Netanyahu e as suas posições que já ultrapassaram todos os limites. Excedeu-os tanto que estamos quase a roçar homologamente, no espalhafato das razões russas invocadas para invadir uma das antigas potências da comunidade russófona, ou melhor dizendo, o celeiro da URSS que é a Ucrânia, como se esse título não fosse o verdadeiro objetivo, em conjunto com o acesso a águas quentes na zona do Donbass e a Crimeia, anexada ilegalmente uns anos antes, para que a Rússia tenha maior proveito regional, económico e de influência marítima. De apontar que, a Rússia invadiu a Ucrânia com diversos fundamentos, sendo dois deles, a ameaça aos cidadãos russófonos que se encontravam nesta região e a desnazificação ucraniana, sem comentários. Não obstante, mas estas razões em momento algum fogem às introduzidas pelo Primeiro Ministro israelita, de forma a fazer uma verdadeira caça aos homens dos grupos terroristas do Hamas e Hezbollah, palestino e libanês respetivamente, nos territórios soberanos em que coexistem e agem. 

As ações até agora efetuadas foram tão graves, que os países que apoiam Israel a esta hora estão a levar as "mãos à cabeça" e a pensar no que vai ser daqui para a frente, pois esta semana, com a entrada de incursões de tropas israelitas por via terrestre no Líbano, o Irão lançou um ataque de centenas de mísseis contra Israel, o que no senso comum das pessoas, implica uma séria autorreflexão do que se anda a fazer. 

Tendo em conta que o Irão, gostaria de ter a homogeneidade da região e ser a potência dominante, o que não o é, tem armas nucleares que faz deste país, com apoio da Rússia, uma posição neutral duvidosa da China e as potências regionais que cercam Israel, um caso muito inquietante para o mundo, e para a economia que já se encontra, mais uma vez, numa recessão brutal. 

O único Estado que se parece calmo mediante o descalabro total que estamos a presenciar são os EUA, mesmo que acredite que seja uma indiferença falsa pois Antony Blinken já deu várias "raspas" em cima de Israel e das suas ações, como se fosse um pai ou até um irmão mais velho quando alguém faz asneiras. 

Mesmo assim, e esta semana denovo, os norte americanos referiram vincadamente que apoiam Israel e que vão responder à medida, repito para que os leitores retirem as suas próprias ilações, os EUA de forma direta e em conferência de imprensa afirmaram que vão atacar Israel. No meu entender, e de forma diferente ao sucedido, em tempos anteriores, os americanos não deram a percecionar que iriam agir através de Israel mas sim por iniciativa própria. Ora, isso significaria algo tremendamente negativo, que passaria nada mais nada menos por uma possível guerra mundial. 

Pela lógica das alianças, bem enraizada felizmente nas sociedades ocidentais, um ataque direto dos EUA seria um convite para assinarmos a subscrição da participação dos russos neste conflito, uma vez que estes são aliados do Irão e companhia, e nós, Ocidente e NATO estamos interconectados, através do lobby israelita, na maior potência do mundo, e sim este tem um imenso peso dentro da sociedade americana, com Israel. 

Nada de positivo se conseguirá retirar de mais um conflito, com diferença que o panorama atual nos mostra que existem vários conflitos regionais em diversas zonas do globo que podem resultar num terceiro grande atrito internacional, pelo menos é o que tudo indica até agora, já para não falar da China, Índia, entre outros players que iriam sem dúvida, em caso de participação, influenciar diretamente o rumo dessa eventual guerra. 

No caso, a Europa não consegue dar resposta a qualquer outro conflito e os EUA, com as eleições a chegar e a possível troca de governo na mesa, ou acabam com as aspirações ucranianas de recuperar o seu território legítimo ou direcionam a sua capacidade de ação para a questão israelita, que poderá escalar ainda mais a situação. Não esquecer que a história tende a repetir-se e para nosso pesar, tendemos a não aprender com as atrocidades que foram realizadas no passado, como foi o caso de Nagasaki e Hiroshima, ou se calhar, fechamos os olhos e esquecemo-nos de que isso aconteceu e que agora é algo de longínqua realização.

O que realmente questiono é o seguinte, será que os chefes de Estado de cada país e respetivos responsáveis, não conseguem chegar à pequena grande conclusão de que os tais, meros mortais, todos nós, estamos a sofrer constantemente, no dia a dia, as decisões patéticas e de extrema ignorância, conjugadas com uma falta de sensibilidade colossal dos nossos líderes? Será que é assim tão difícil ter um pouco de senso comum, e deixar de parte o ser egoísta ou o sentimento de arrogância que paira no ar, aplicado não só aos nossos ditos responsáveis mas às sociedades na sua generalidade de forma estrutural, e ao mesmo tempo, deixar de vez o passado que se tenta sempre reaver da pior forma possível? 

De fato é capaz de ser muito difícil, pois como Maquiavel pensou, os fins justificam os meios, o que verifica a impulsividade naturalmente concedida ao Ser Humano, caso contrário, se vivêssemos num mundo da paz perpétua de Kant, viveríamos numa utopia, algo que infelizmente está cada vez mais longe de alcançar, se é sequer palpável. Essa situação a acontecer, seria provavelmente de outro mundo mas, a partir do momento que existem culturas diferentes, países diferentes, etnias, costumes, desenvolvimentos completamente incoerentes ao longo de todo o hemisfério global, não haverá nenhuma sociedade que por muito mais melting pot que seja, consiga evitar a condição primária da raça humana de querer sempre mais, melhor, e de obter o que normalmente pertence aos outros. 

 Sérgio Carvalho            

© 2022 Caneta Lusófona. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora