Península Ibérica e a sua capacidade no espaço: avanços cruciais para um futuro próximo

A componente do espaço caracteriza-se, sem dúvida, por ser uma área em expansão abrupta e, ao mesmo tempo, é, e será a médio e longo prazo, uma das razões pelas quais a Humanidade consegue encontrar progresso além do planeta Terra, não retirando a importância aos feitos históricos efetivados e aos acontecimentos recentes do nosso quotidiano, neste aspeto.
Assim, é possível atentar para um enaltecer de feitos enormes, como fora a época dos descobrimentos, com uma vocação marítima, que, hoje, se alterou para a evolução do setor estelar, com uma vocação espacial, em Portugal. O país, com o auxílio da Espanha, perfaz uma união ibérica neste esforço, ao desenvolver, em conjunto com a sua vizinha territorial, um programa designado por "Constelação do Atlântico", com o intuito de fomentar a evolução destes dois países na vertente referida.
Aplicado em duplo uso comercial-sustentável e, possivelmente, para a sua utilização científica, o projeto consubstancia vários fatores relevantes, tais como: a ajuda aos agricultores da Península Ibérica no planeamento e qualidade das suas colheitas; a melhoria no planeamento da organização de cidades e dos seus respetivos espaços verdes, de forma a que as mesmas possam ser mais resilientes e cómodas; prestação de auxílio em casos de cheias e inundações; e o redirecionamento do tráfego automóvel, com as informações mais atualizadas possíveis e um acompanhamento em tempo real dos acontecimentos. Adicionam-se outros fatores de maior relevância, nomeadamente, a sua utilização para uma propensão militar, na vertente da defesa e segurança da força aérea, o que resulta não só num avanço considerável neste aspeto, como também coloca Portugal e Espanha na linha da frente do desenvolvimento tecnológico aplicado à realidade militar, comercial, sustentável e científica.
De referir que, no contexto militar, a força aérea terá soberania sobre as imagens produzidas e os conteúdos sensíveis que possam surgir, matéria que vai ser automaticamente dirigida pelos representantes da defesa de Portugal e de Espanha, respetivamente, com acesso exclusivo aos conteúdos que surjam deste projeto, sendo que as mesmas terão uma cobertura espacial pelos satélites lançados, de 3 órbitas, com cerca de 8 quilómetros de largura e 9 quilómetros de comprimento.
Consequentemente, a "Constelação do Atlântico" irá permitir a criação de novos serviços, vagas de emprego e produtos, o que representa um aspeto bastante positivo para ambos os países e, ao mesmo tempo, implica um reconhecimento internacional do trabalho efetuado.
Dessa forma, é importante enaltecer que os dois países, até 2027, irão lançar oito satélites cada um para perfazer o objetivo desta iniciativa, sendo que o primeiro destes exemplares foi lançado em outubro do ano passado, de forma a justificar o investimento e a acertar certos aspetos que possam vir a ser considerados inconveniências futuras, e que serão colocados, sensivelmente, a 600 quilómetros da Terra.
O desenvolvimento deste projeto é feito pela GEOSAT, contudo, é em Matosinhos, na CEiia, polo tecnológico altamente avançado, que se desenrolará todo o processo efetivo, assim como o design dos satélites, testes e respetivo controlo dos mesmos, não obstante, em Lisboa e Guimarães, o processamento dos dados, aferidos e produzidos pelo polo em Matosinhos, ser armazenado e tratado. Refira-se que esses dados serão captados num investimento superior em antenas tecnológicas, tais como as que existem na Ilha de Santa Maria, nos Açores, com o intuito posterior de analisar e enviar os dados para as centrais tecnológicas referidas.
Subsequentemente, é crucial referir de onde vem o investimento para se concretizar a "Constelação do Atlântico", uma vez que o montante é considerável, encontrando-se no valor de cerca de 80 milhões de euros, passíveis de aumento para os 120 milhões.
Portanto, este projeto representa uma aposta financeira por parte de Portugal e Espanha, sendo que metade do valor realçado será comparticipado pelo programa do PRR Europeu, conciliado com o valor disposto por fundos privados para esta matéria. Acrescenta-se ainda que parte da quantia está a ser negociada e, para além disso, existem potenciais interessados em ingressar no programa, de que são exemplo o Reino Unido, aliado histórico e mais antigo de Portugal, países na América do Sul e em África, que ainda estão por conhecer.
Tal como foi abordado, o valor total é passível de um aumento para 120 milhões de euros, pois existe o objetivo de trazer novas características que o pacote de 80 milhões de euros não possui, como imagens noturnas e térmicas, de forma a disponibilizar o uso duplo comercial-sustentável e científico, para além do cenário militar da força aérea, questão essencial para a sua utilização e para localizar, por exemplo, incêndios florestais que surjam em períodos noturnos.
Por fim, face aos avanços que a Península Ibérica tem feito repercutir nesta área, é possível referir que a Agência Espacial Europeia tem vindo a recorrer aos pressupostos portugueses e à sua tecnologia para a missão Hera, com o objetivo de estudar o comportamento gravitacional e as respetivas trajetórias dos asteroides no espaço, de forma a precaver o seu embate em solo terrestre, o que dota Portugal de um considerável reconhecimento europeu e internacional. A localização do grupo de asteroides que vão ser analisados encontra-se perto do planeta Marte, a cerca de 177 milhões de quilómetros da Terra.
A sonda enviada pela Agência irá chegar ao seu destino em dezembro de 2026, ao asteroide Dimorphos. Entretanto, pelo seu percurso, irá recolher dados de Marte e das suas duas luas, numa iniciativa para testar os equipamentos sensoriais e de software que a GMV, empresa portuguesa, entre outras que estão a contribuir para o sucesso desta missão, desenvolveu, de forma que exista um controlo autónomo dessa sonda na aproximação aos asteroides em causa. A sua passagem por Marte concretizou uma simulação, como se de um asteroide se tratasse, que ocorreu na quarta-feira passada.
Concluindo, a capacidade de realizar feitos enormes está intrínseca a Portugal e Espanha, tal como aconteceu no passado, com a era dos descobrimentos. No entanto, hoje existe uma adaptação desse espírito, de forma renovada, numa corrida ao espaço e ao ciberespaço militar, áreas que, a médio e longo prazo, serão cobiçadas por todos a nível internacional, que, de certa forma, já o são, e por conseguinte, face às ameaças existentes, dotam-se por serem uma escapatória para o que designamos de Humanidade.
Sérgio Carvalho