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Os Curdos e uma Turquia impedida de entrar na União Europeia

04-12-2023

A entrada da Turquia na NATO, país com uma elevada população, ocorreu em 1952, sendo que a mesma é caracterizada como um elemento crucial e de bastante relevo nesta organização de perfil defensivo. Assim, e após anos de espera, o território referido pretende integrar em solo europeu, a sua união, com liberdade de transação de bens, serviços e capitais, ou seja, entrar na União Europeia.

Tal como é conhecido, recentemente existiram movimentações internas europeias, com objetivo de acelerar a recepção da Ucrânia na UE, entre outros países como a Geórgia e a Moldávia, por exemplo. De apontar que o primeiro é considerado como o "celeiro mundial", o último bastião da antiga URSS, cuja capacidade de fornecimento de cereais é extrema, traduzindo-se numa mais-valia para a Europa, caso integre a união. Mesmo que países fronteiriços como a Polónia, e até França com as suas ações que sairiam prejudicadas, se opõem, pois iria existir uma forte alteração no processo das políticas agrícolas comuns dos países da União Europeia, bem como no peso do seu voto em matérias supranacionais da união em si.

Portanto, mesmo com a intenção de permitir a entrada a esses países, a Turquia está nesse processo há bastantes anos, sendo que vários fatores entram em equação e levam a que a mesma não participe no projeto europeu.

Primeiramente, existe uma complexa divergência quando nos referimos aos Direitos Humanos e ao seu respeito, como a igualdade de género, a extinção do trabalho infantil e forçado, entre outros aspetos que não são de todo respeitados em território turco.

Em segundo lugar, a matriz religiosa que difere em muito aspetos com a europeia, caracterizada por ser romano judaico-cristã, ou seja, divergente dos fundamentos e na sua generalidade do islamismo. Fato que provoca um número elevado de ocorrências, devido aos atritos entre diferentes etnias e populações, originando assim, um crescimento em cadeia de instabilidades marcantes.

Por último, a questão que propus, a coexistência com os Curdos, presentes não só em território turco como igualmente pertencentes ao Iraque, Síria, Irão e Armênia. A pergunta que se coloca é, porque é que o acolhimento desta fação populacional é um problema? Muito devido à percentagem que representa no número total de habitantes da Turquia, estando localizados entre os 15% e 20% dessa mesma população, cerca de 80 milhões de habitantes, e também pelo tratamento repressivo a que foram sujeitos durante as décadas de 1920 e 1930, consistindo numa tentativa forçada de implementar medidas restritivas contra os mesmos.

No entanto, o conflito interno da própria Turquia com os Curdos não fica estabilizado no seu território, pois a existência de uma constante ameaça está presente na consciência de cada cidadão desse Estado. Existe homologamente, problemas relacionados com tropas destacadas para o norte da Síria, para que a mesma fosse auxiliada a combater uma ação ofensiva contra o Estado Islâmico, apoiado pelos Curdos, por exemplo, os designados "turcos das montanhas", expressão depreciativa utilizada com intuito de criar exclusão e má percepção social.

Concluindo, a Turquia, infelizmente para a UE e para o próprio país, vê no momento, a pouca probabilidade com que pode ingressar no projeto europeu, pois os conflitos internos graves, a coexistência com uma fação populacional completamente divergente com os pressupostos da União Europeia, conjugado com a violação constante dos Direitos Humanos e a recusa do seu respeito, levam a que a integração da Turquia na sustentável união, não se realize no momento, e na minha opinião, será de extrema complicação avançar.

Sérgio Carvalho 

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