O modelo de debates português e o benefício concedido ao populismo

Nos últimos anos, temos testemunhado o avanço do populismo em várias partes do mundo, inclusive em Portugal. Embora haja vários fatores que contribuem para esse fenómeno, o modelo de debates português também pode ser considerado como um deles. Neste artigo, tentarei mostrar como esse modelo de debates pode beneficiar o populismo no país.
Um dos principais problemas do modelo de debates português reside na superficialidade dos assuntos tratados. Geralmente, esses debates são conduzidos em um formato de confronto, onde o objetivo principal dos participantes é gerar polémica e captar a atenção dos espectadores. Os temas mais complexos são frequentemente ignorados em nome do entretenimento e da procura por audiência. Esse tipo de abordagem, embora possa atrair mais telespectadores, também contribui para que os mesmos sejam simplificados e destituídos de nuances importantes. O populismo, por sua vez, aproveita-se dessa superficialidade para fornecer respostas fáceis e simplificadas para questões complexas, atraindo a atenção dos cidadãos descontentes e desinformados. Outra característica do modelo de debates português é a polarização política. Diversos programas do cariz argumentativo, são conduzidos de forma a incentivar uma dinâmica de confronto entre dois lados opostos. Essa divisão binária, no entanto, não reflete a complexidade que existe na realidade política de Portugal.
A polarização exacerbada relativa à questão central do artigo, cria um ambiente propício para o populismo continuar a crescer. Os líderes populistas são habilidosos em explorar as frustrações e as divisões da sociedade, oferecendo soluções simplistas que aparentam resolver todos os problemas. Como resultado, os cidadãos podem ser facilmente seduzidos por discursos de carácter popular, que prometem soluções imediatas e alegam rejeitar a "velha política".
O modelo de debates português também tende a dar pouco destaque às discussões de políticas públicas. Preocupa-se mais com a forma do que com o conteúdo propriamente dito. Os programas de debates frequentemente focam-se nas acusações e nas disputas pessoais entre os políticos, deixando de lado os debates sérios sobre propostas e a análise dos impactos das políticas públicas em questão. Essa ausência de uma troca de impressões construtivas sobre políticas públicas beneficia o populismo, uma vez que os seus líderes não são necessariamente conhecidos pelas suas propostas coerentes ou viáveis. Esses fazem-se valer muito mais da retórica emocional e de promessas vazias para atrair o eleitorado. A falta de aprofundamento nos debates acaba por permitir que o populismo se estabeleça como uma alternativa.
Embora o modelo de debates português tenha a intenção de envolver os cidadãos na política e promover a participação democrática, há evidências de que ele também pode beneficiar a questão populista existente. A superficialidade dos assuntos, a polarização política e a falta de discussão de políticas públicas são problemas que podem minar a qualidade do debate político e tornar mais fácil para os líderes populistas conquistarem apoio dos cidadãos. É necessário um esforço conjunto para reformar e melhorar o modelo de debates, a fim de garantir um ambiente político mais saudável e construtivo para o país.
Nuno Martins