Entre páginas e ecrãs: os jovens ainda leem?

A pergunta persiste, mas o contexto mudou. Num mundo dominado por conteúdos rápidos, notificações constantes e plataformas digitais, será que os jovens ainda leem? A resposta está longe de ser um simples sim ou não.
O TikTok, conhecido pelos seus vídeos curtos e virais, tornou-se um inesperado motor de promoção literária. A comunidade #BookTok já soma milhões de visualizações e tem impulsionado a venda de livros em todo o mundo. Títulos como "A Hipótese do Amor", de Ali Hazelwood, ou "Verity", de Collen Hoover, conquistaram destaque graças a recomendações feitas por jovens criadores de conteúdo. Mesmo livros menos recentes voltaram a figurar nas listas de mais vendidos, renovando o interesse de um público que, até há pouco tempo, parecia desligado do universo literário.
Este fenómeno mostra que os jovens continuam a ler – mas não necessariamente os livros que costumavam preencher as prateleiras das bibliotecas. A preferência recai frequentemente sobre romances contemporâneos, thrillers e fantasia, géneros com leitura fluida, linguagem acessível e temas atuais. O apelo emocional, a estética das capas e a capacidade de gerar identificação são fatores decisivos na escolha. Ler tornou-se, em muitos casos, uma experiência partilhada: lê-se para sentir, para comentar, para recomendar. As emoções e os dilemas das personagens são discutidos nos comentários e replicados em vídeos, memes e playlists – criando uma espécie de clube do livro digital.
Ainda assim, há quem questione a profundidade dessa leitura. São poucos os clássicos, os autores lusófonos ou os livros de não-ficção que conseguem furar o algoritmo. A lógica do viral impõe regras próprias, o que não se adapta ao ritmo da plataforma, dificilmente encontra visibilidade. Isso levanta uma questão pertinente, será que estamos a ler mais ou apenas a consumir mais do mesmo?
Apesar das críticas, o simples facto de tantos jovens estarem a falar sobre livros já é, por si só, revelador. Há entusiasmo, partilha, curiosidade. A leitura, neste novo cenário, continua presente. Apenas mudou de forma, de espaço e linguagem.
Lê-se com o telemóvel na mão, com vídeos de 30 segundos a explicar porque determinado final partiu corações ou porque aquela personagem se tornou inesquecível. Pode não ser o ideal para quem sonha com tardes silenciosas passadas entre clássicos de leitura. Mas é, sem dúvida, uma forma de manter viva a relação com os livros, mesmo que adaptada ao ritmo dos ecrãs.
A leitura não desapareceu. Está a reinventar-se, mais rápida, mais emocional, mais visual. Entre páginas e ecrãs, os jovens continuam a ler.
Beatriz Vendas