Eleições na Argentina: o virar da página?

"Tal como a queda do Muro de Berlim, estas eleições marcaram um ponto de viragem na nossa história", será que as palavras do novo presidente argentino, Javier Milei, são algo a cumprir? Ou apenas um mero comentário ingénuo que não passa de algo fictício?
Na história, todos os acontecimentos repetem-se e estão inseridos num processo cíclico e contínuo de graves consequências para os agentes envolvidos, no caso, especificamente uma Argentina no pico da pobreza, com mais de 45% da população total numa situação de grave ou extremo risco de sobrevivência, em conjugação com a alta inflação existente, devido ao crescente movimento dos conflitos regionais, de que são de conhecimento comum, mas acima de tudo, a sua dívida pública astronómica que, para além de ter batido recordes, negativos, apresenta uma autêntica banca rota, com valores superiores a 88%, na sua dívida pública bruta, e valores semelhantes em diversas áreas. Este valor foi renegociado com o Fundo Monetário Internacional, caso contrário, a sua situação estaria duplamente agravada.
Os valores do país são tão preocupantes, que as soluções para o combate à inflação, e respetiva pobreza, são quase diminutas, uma vez que questões como a primeira se identificam nos cerca de 300% de inflação anual no país, valor este abismal, com vários problemas a serem equacionados de forma que a Argentina possa, não existir mas sim sobreviver.
No entanto, o novo líder, que é economista, assumiu posse do controlo político do país, durante o mandato de 2023 a 2027, e em dia de discurso para a população, referiu que o ajustamento da matéria reservada à fiscalidade, e da emissão monetária são assuntos prioritários, através de uma "estagflação", que será de acordo com o mesmo, o caminho para o renascer de uma Argentina quase inexistente e altamente debilitada. Caso o plano rigoroso que Milei irá aplicar fracassar, o país corre sérios riscos de atingir índices históricos e incomportáveis de 15.000% de inflação a cada ano de existência do próprio país, uma pobreza que poderia alcançar os paupérrimos 90% da população total e sucessivamente, um aumento elevadíssimo do indicador da miséria para cerca de 50% dos cidadãos argentinos.
A questão é que, mesmo que o atual presidente consiga num espaço de dois a três anos implementar e de fato apresentar uma melhoria sintética nos valores existentes na sociedade e nas questões políticas, será apenas um ato minoritário face às gigantescas adversidades que o país enfrentou, está a enfrentar e irá passar num futuro próximo. Apesar das melhores das intenções, Milei não conseguirá alterar o processo de rutura total em que a Argentina se encontra, só poderá amenizar numa escala bastante pequena, com incidência direta no período de um a quatro anos, a situação deste Estado. No melhor dos cenários, o país poderá estabilizar os valores atuais, e só a partir de um verdadeiro milagre, e com vários perdões de dívida para com países externos ao seu, é que talvez conseguirão obter melhores condições para se continuar a sobreviver neste território.
Em suma, Javier Milei irá concerteza, mediante as suas convicções e vontades concretas, conseguir efetuar mudanças estruturais no seu país, com efeito a curto e médio prazo, que têm o intuito de trazer uma maior estabilidade à instável situação em que a Argentina se encontra. Mesmo que isso implique que durante e após o seu mandato, este território mantenha uma tendência para uma exorbitante inflação anual, pobreza e miséria, conjugado à fraca credibilidade que detém atualmente junto dos países da América Latina e do mundo propriamente dito.
Sérgio Carvalho