E agora? Não sei.
Envolto num mundo que não para de evoluir, sinto-me forçado a acompanhá-lo. De quem depende o meu futuro? De mim. De quem depende o quanto trabalho? De mim. Mas o valor atribuído ao meu trabalho, depende apenas de mim? Nem sempre. Desde o início do meu percurso de decisões sobre o futuro, já mudei de direção diversas vezes. Imaginei-me em organizações como a ONU ou a UE, como professor universitário, assessor, ou em instituições de trabalho social. E trabalho continuamente para construir um currículo digno dessas trajetórias.
Afinal, o que quero hoje pode não ser o mesmo que desejarei amanhã. Será que deveria saber exatamente o que quero? Criei este projeto, a Caneta, por paixão pela escrita. Tornei-me trabalhador-estudante por querer algo mais concreto, uma sensação de independência. Ao tornar-me tesoureiro, procurei um desafio que me fizesse sentir útil e conectado com os outros. No entanto, não posso ignorar o que isso representa também para o meu futuro, para o currículo que estou a tentar aperfeiçoar. Tudo isto parece ser parte de algo maior que tento descobrir, mas ainda não tenho a certeza do que é.
Grande parte das minhas dúvidas permanece. Onde me levarão todas estas escolhas? Qual será o resultado de tanto esforço? À medida que o fim do curso se aproxima, essas questões ganham mais peso e tornam-se mais assustadoras. Será que estou a fazer o suficiente? Ou talvez esteja a focar-me demasiado no futuro e a negligenciar o presente? A linha entre o que devo fazer e o que quero fazer é tão ténue que, muitas vezes, não sei por onde seguir.
Oscar Wilde dizia que aqueles que perseguem um objetivo fixo, como ser professor, médico ou soldado, podem acabar prisioneiros do seu próprio destino. Mas aqueles que se reinventam, esses viverão vidas mais plenas. Pergunto-me, então, se estou a seguir um caminho que me prenda, ou se estou a permitir-me essa reinvenção. Será que o papel – o currículo – será suficiente? Ou estou a exigir demais de algo tão simples como um pedaço de papel?
Recentemente, tenho pensado sobre as pessoas à minha volta. Quero estar presente para elas, mas também quero ser mais, fazer mais. Orgulho-me do que já conquistei, mas não consigo afastar a sensação de que ainda não é o bastante. E aqui estou, a lutar entre o desejo de fazer mais e a perceção de que talvez já tenha feito o suficiente. Ao mesmo tempo, sinto que me limito, talvez pelas minhas próprias expectativas, talvez pelo que o mundo espera de mim.
Acredito que todos partilhamos esta dualidade: o sonho de sermos mais, mas o receio de não sermos o suficiente. Sabemos o que somos capazes de fazer, mas também sabemos que os outros podem não ver isso da mesma forma. Essa constante autoavaliação consome-nos. O que será que realmente espero de mim? Existe uma resposta definitiva? Pergunto-me se há mesmo um segredo, algo que me ajude a encontrar paz nesta procura. Talvez o segredo seja perceber que não há uma resposta certa. Mesmo a certeza pode ser assustadora. Não quero viver com cada dia planeado ao detalhe. Mas o que me assusta mais: não saber o que quero, ou descobrir e não conseguir alcançar? Sinto-me numa constante tensão entre querer tudo e temer que nada seja o suficiente.
No final, sei que quando encontrar o que procuro, darei tudo de mim para o conquistar. Mas o que acontece depois? E agora ahah? Parece que estou sempre à espera da próxima resposta, como se estivesse num diálogo interminável comigo mesmo. Apenas sei que não sei. E talvez nunca saiba.
Ao longo desta jornada, percebo que a incerteza é, na verdade, uma constante que me acompanha. Cada pergunta que surge revela camadas da minha própria psique, levando-me a explorar não apenas o que quero, mas também o que me motiva a querer. A dúvida não é apenas uma barreira, é uma oportunidade para questionar as crenças que moldam a minha visão de futuro. Será que as expectativas que carrego são realmente minhas ou ecoam vozes externas? Esse espaço de reflexão muitas vezes gera desconforto, mas é nesse desconforto que começo a encontrar pistas sobre o que realmente importa para mim.
Ora, a luta interna entre o desejo de segurança e a vontade de explorar o desconhecido fazem parte do que significa ser humano. Cada resposta que busco não é apenas uma solução, mas um passo em direção a uma compreensão mais profunda de mim mesmo. Aceitar a ambiguidade e o caos que a vida traz é um ato de coragem. Às vezes, sinto que me prendo a certezas, mas no fundo, sei que é na incerteza que reside o potencial para a transformação. Essa busca constante, mesmo que frustrante, é o que me impulsiona a crescer e a redefinir quem sou.
Se pudesse, diria algo mais tranquilizador, algo que dissipasse esta inquietação. Mas este é o meu desabafo mais sincero, uma reflexão sobre este constante ir e vir de pensamentos. Esta é a minha conversa interna, a procura por respostas que, no fundo, sei que talvez nunca cheguem. A sensação de que este diálogo faz parte de todos nós é, paradoxalmente, o que me mantém em movimento.
E ainda assim, mantenho-me otimista. Não sei o que o amanhã trará, mas quero acreditar que estou a trabalhar para que seja melhor do que qualquer coisa que imaginei. Continuo a construir o meu futuro, mas tento não esquecer o presente. Quero ter sucesso, mas sei que só aprendo com os fracassos.
Ironicamente, pergunto-me se é possível conciliar o
desejo de grandes realizações com a busca por simplicidade.
E agora? Não sei.
Perguntem-me amanhã, mas a resposta será, provavelmente, a mesma.
Gonçalo Brito