“Impacto” A falta de psicólogos no SNS

Portugal, como nação e sociedade, tem enfrentado desafios significativos nos últimos anos. Temos vivido, como nunca antes, problemas sociais para os quais ainda não encontramos respostas ou soluções, especialmente no âmbito do ensino público, do aumento constante das taxas de juro, das implicações da guerra russo-ucraniana, entre outros.
Medidas governamentais como a redução do IVA em produtos essenciais, a disponibilização gratuita de passes de transporte para estudantes sub-23 e programas de apoio social têm sido bem-sucedidas em atenuar esses problemas. No entanto, não conseguimos resolvê-los completamente.
Neste período de vulnerabilidade, a saúde mental dos portugueses tem-se deteriorando progressivamente. Atualmente, contamos com apenas cerca de 1100 psicólogos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que equivale a aproximadamente 0,522 profissionais por 5000 habitantes (conforme dados da Ordem dos Psicólogos). Em momentos de crise, o suporte emocional desempenha um papel fundamental no fornecimento das ferramentas necessárias para superar adversidades. No entanto, em alguns casos, a assistência de familiares ou amigos queridos não é suficiente, e é aí que a ajuda profissional se torna indispensável.
De acordo com um estudo apresentado pela Ordem dos Psicólogos, um em cada cinco portugueses sofre de problemas de saúde mental. Observamos também um aumento considerável no consumo de psicofármacos na população. Segundo um estudo realizado pelo INFARMED em 2014, entre 2000 e 2012, houve um aumento de 240% no consumo de antidepressivos e de 171% no consumo de antipsicóticos. Vale a pena mencionar que o custo associado à hospitalização devido a distúrbios mentais está em ascensão, implicando, assim, um maior gasto de recursos.
Um estudo conduzido pela empresa alemã Merck (uma empresa de farmacêutica e ciências biológicas) revelou que 94,4% dos jovens portugueses estão mais preocupados com sua saúde mental do que com sua saúde física, a percentagem mais alta entre os 12 países estudados. No entanto, apenas 30,4% desses jovens afirmam fazer consultas regulares com profissionais para avaliar a sua saúde mental. Poderia esta discrepância ser atribuída à falta de psicólogos no SNS? Será que o custo médio de uma consulta de psicologia, cerca de 60 euros, é a razão pela qual muitas pessoas não procuram tratamento? (Dados retirados da Deco PROTest).
Neste período de grandes desafios económicos e sociais, é crucial que o Serviço Nacional de Saúde esteja preparado para fornecer apoio aos cidadãos. O estudo mencionado, conduzido pela empresa Merck, foi realizado em 2023, sendo, portanto, bastante recente. Mais de 50% dos jovens portugueses relatam que as redes sociais causam ansiedade e stress, e mais de 40% afirmam sentir-se socialmente excluídos. Se não receberem o devido acompanhamento agora, quem sabe que tipos de problemas podem enfrentar no futuro. O mesmo aplica-se aos adultos.
O novo Orçamento do Estado deve ser apresentado à Assembleia da República até 10 de outubro de 2023. Como cidadão, espero que o investimento na área da saúde leve em consideração o problema da escassez de psicólogos no SNS. A saúde mental de cada indivíduo não deve ser tratada com leveza e, por isso, precisamos de garantir que a ajuda adequada esteja acessível a todos.
Gonçalo Brito